FESTA DE SÃO JOÃO
GUIGNARD COMO O CONHECI
CONDÉ, João. O Cruzeiro. Belo Horizonte, 04 de agosto de 1962.
Em abril de 1958, fui ver Guignard em. Ouro Preto e ouvi-lo para um dos meus "flashes”. Confesso que meu maior desejo era possuir um Guignard, mesmo naquele tempo muito além de minhas possibilidades financeiras. Samuel Koogan, que me levara a Ouro Preto, comprara em uma papelaria de Belo Horizonte duas telas. Quando chegamos à velha cidade, encontramos Guignard tomando sua cervejinha da manhã, num café do centro da cidade. Sentamo-nos à sua mesa. Conversamos com alegria. Dali fomos almoçar no Grande Hotel.
Até ali não vislumbrava a menor “chance” de ser dono de uma tela do pintor. Samuel Koogan, grande amigo de Guignard, entendendo os meus silenciosos desejos, levou o mestre para a varanda do hotel. Ouvi-lhe a frase:
— Porque você não dá um quadro ao nosso Condé?
— Como, se eu não tenho tela para pintar?
— Por isso não, que eu trouxe uma — rebateu Koogan.
E ali mesmo, achando muita graça na perseverança do amigo, Guignard pintou o Ouro Preto que se via da varanda. Naquela tarde, entrevistei o grande pintor e colhi os dados para este "flash”. Enternecido com a nossa conversa, Guignard fez seu retrato ao espelho, dizendo-me: "Este meu retrato é o primeiro que faço com bigodes”. No dia seguinte trazia eu, feliz da vida, uma tela do mestre. Se não a comprei, creio tê-la pago com o devotado carinho que sempre lhe dediquei. Quanto à tela, sempre a conservei na minha melhor parede e no meu maior amor.