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A pintura moderna do Brasil.
VITOR, Raul São. Autores e Livros. Suplemento Literário. In: A Manhã. Rio de Janeiro, 01 de outubro de 1944, p. 177.
 

- Guignard: É! Quero examinar este céu metálico, que não é fácil pintar. E estou enlevado com a sua Capital, pois reparei que pelos arrabaldes há lindíssimos motivos para desenho e pintura. 

 

Surgiu-nos, então, daquele encontro casual, a sugestão de uma entrevista. O professor Guiganerd que  o Prefeito Juscelino Kubistscheck acaba de contratar para nosso Instituto de Belas Artes, é um dos mais interessantes artistas do Brasil do nosso tempo. Muito pessoal e sincero, vibra num entusiasmo juvenil pela sua arte. E sem lhe revelar a intenção, fizemos a primeira pergunta:

- Jornal: Professor, a sua terra de nascimento é...

- Nasci em Nova Friburgo, a poética cidadezinha de veraneio do Estado do Rio de Janeiro.

 

- Jornal: Em...

- Guignard: Em 25 de fevereiro de 1896. Como já vai longe! E parece que foi ontem mesmo...É que já ocorreu tanta cousa de então para cá...E tudo isso parece pouco deante do que ainda espero fazer!

 

- Jornal: E seus estudos, onde o fez?

- Guignard: Na Alemanha, na Itália e na França .

 

- Jornal: Quando entrou em contato com o público, isto é, quando expôs pela primeira vez seus trabalhos?

- Guignard: Foi em 1927, em Veneza. Realizava-se ali a Exposição Internacional, em que figuram meus quadros. Depois, nos dois anos seguintes, vi meus trabalhos expostos nos salões “D’Automme” e “Independants”, de Paris.

 

- Jornal: E no Brasil?

- Guignard: Em minha terra exponho nos Salões Oficiais do Rio de Janeiro desde 1929. Em 1939 obtive a medalha de prata e em 1942 a medalha de ouro. Concorri ao prêmio “Viagem ao país”, em 1940, e obtive-o com o quadro “Léa e Maura”.

- Jornal: Já conhecemos essa tela, professor. Vimo-la na Pinacoteca Nacional.

- Pois é, propriedade dela. O Museu de Arte Moderna de Nova York, adquiriu há dois anos um desenho meu e o quadro “Noite de São João”.

Perlongávamos, em conversa, as alamedas da Praça, quando em frente um banco o pintor parou. Pegando-nos de um braço, apontou o céu.

- Guignard: Sabe a impressão que essa cor me dá?

E com um gesto rápido, riscando o azul.

- Guignard: é de fazer assim tiiimmm.

Essa onomatopeia com 'i' fortemente explosivo e meio palatal, surpreendeu-nos. Olhamos o céu e pareceu-nos sentí-lo tinir.

Guignard assentava-se em um banco e sua atenção voltava-se para as rosas temporãs, de um vermeho muito quente, supensa a seus olhos. Mas não lhe damos tregua, e indagamos-lhe sobre suas atividades de professor, fascinação do seu espírito.

- Guignard: Fui professor de desenho na extinta Universidade do Distrito Federal e hoje sou da Fundação Osório, também do Rio. Mas, a minha melhor experiência foi o “Grupo Guignard". Fundei-o no ano passado e com tanto rigor ensinei, que no fim de seis meses pude fazer uma exposição de trabalhos dos meus alunos. Mas, foi uma exposição de verdade, que alcançou no Rio um desusado êxito!

Estas cousas fazem-nos pensar na felicidade da escolha feita por Kubitscheck. Porque Guignard vai contagiar com seu entusiasmo e dirigir com a sua experiência as vocações que, tímidas, se escondiam por aí.

- Jornal: Quantos alunos se inscreveram no curso de Desenho do Instituto?

- Guignard: Numerosos, tanto que se esgotaram as vagas. Mas, além do curso oficial, quero manter um particular. Será o “Grupo Guignard de Minas”.

(continua...)

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